A contribuição na avaliação da evolução e gravidade da infecção pelo SARS-CoV-2.

O papel essencial dos laboratórios clínicos nessa pandemia vai além do diagnóstico etiológico do COVID-19. O monitoramento bioquímico de pacientes com COVID-19 através de exames é fundamental para avaliar a gravidade e progressão da doença, bem como monitorar a intervenção terapêutica. Vários testes laboratoriais comuns foram implicados na progressão desfavorável do COVID-19, fornecendo informações prognósticas importantes. Uma lista de testes recomendados com base na literatura atual está incluída abaixo, juntamente com breve descrição das principais anormalidades associadas a pacientes adultos com COVID-19 e seu potencial significado clínico.

As seguintes investigações laboratoriais a todos os pacientes com doença grave

  • Gasometria arterial
    É indicada para detectar
    hipercapnia ou acidose.
    Recomendada para pacientes com
    dificuldade respiratória e cianose
    que apresentam baixa saturação de
    oxigênio (SpO₂ <90%) à oximetria
    de pulso. Pode mostrar baixa
    pressão parcial de oxigênio.
  • Hemograma Completo
    Linfopenia, leucocitose e
    trombocitopenia estão associadas a
    doença grave; portanto, podem ser
    úteis como biomarcadores para
    predizer a progressão da doença.
    A alta proporção de
    neutrófilos/linfócitos é útil para
    indicar risco de doença grave e
    prognóstico desfavorável.
    A trombocitopenia de fase tardia (isto é, ocorrendo 3 semanas ou mais após o início dos sintomas) foi relatada, mas é incomum. Redução da hemoglobina e dos eosinófilos também podem estar entre os resultados.
  • Perfil Metabólico Completo                                                                                                                                              As anormalidades laboratoriais mais comuns em pacientes hospitalizados com pneumonia incluem alteração de provas de função hepática e renal. As transaminases hepáticas aumentam na doença grave, bem como ocorre b hipoalbuminemia, portanto, estes achados podem ser biomarcadores úteis para predizer a progressão da doença. O mesmo ocorre com os níveis séricos de ureia e creatinina, com comprometimento renal. Foi demonstrado que a hiperglicemia não controlada agrava o prognóstico em todos os pacientes, não apenas nos pacientes com diabetes.
  • Coagulograma e Dímero D                                                                                                                                             As anormalidades mais comuns são dímero D e fibrinogênio elevados, além de prolongamento do tempo de protrombina. O nível do dímero D aumenta na doença grave e pacientes com níveis muito altos de dímero D têm um aumento do risco de trombose. Dímero-D à admissão maior que 1µg/ml foi relatado como preditor independente de mortalidade.
  • Proteína C-reativa sérica e Lactato desidrogenase sérica
    O aumento da PCR na COVID-19 parece acompanhar a gravidade e o prognóstico da doença. Deve-se considerar a presença de infecções associadas. O aumento da LDH pode ser mais comum na COVID-19, comparado a outros tipos de pneumonia.
  • Nível sérico de interleucina-6 As evidências sugerem que pacientes com COVID-19 grave podem estar em risco de síndrome da tempestade com citocinas. Os testes de citocinas, principalmente a IL-6, devem ser utilizados sempre que possível para avaliar pacientes graves com suspeita de hiperinflamação. A interleucina-6 é a citocina mais comumente liberada pelos macrófagos ativados. Os níveis aumentam na doença grave; portanto, podem ser biomarcadores para predizer a progressão da doença. É menos provável que esteja elevado nas crianças
  •  Biomarcadores cardíacos
    O nível sérico de troponina I pode estar elevado nos pacientes com lesão cardíaca. Estudos apontam níveis de troponina I significativamente maiores naqueles com a forma grave da COVID-19 em comparação àqueles com a forma não grave. Outros biomarcadores cardíacos (por exemplo, creatinoquinase miocárdica, peptídeo natriurético do tipo B, troponina cardíaca T) também podem estar elevados e estão associados a doença grave e piores desfechos. Verificou-se que a creatinoquinase fração miocárdica está elevada na doença leve em crianças.
  • Procalcitonina sérica
    A procalcitonina sérica geralmente é normal à admissão, no entanto, aumenta em pacientes que necessitam de cuidados na UTI. Segundo dados de Huang, os pacientes terão procalcitonina normal e PCR elevada. Pode estar elevada em pacientes com infecções bacterianas secundárias. Não há evidências suficientes para a testagem
    rotineira da procalcitonina servir de base para decisões sobre o uso de antibióticos. No entanto, ela pode ser útil
    para limitar o uso excessivo de antibióticos em pacientes com pneumonia relacionada à COVID-19
  • Nível de ferritina sérica
    Marcador inflamatório. Pode indicar o desenvolvimento da síndrome de liberação de citocinas.
  • Creatinoquinase sérica (CPK)
    Creatinoquinase elevada foi relatada em 13% a 33% dos pacientes e indica lesão muscular ou do miocárdio
  • Hemoculturas e culturas de escarro
    Amostras de escarro e de sangue para cultura em todos os pacientes com doença grave ou crítica para descartar
    outras causas de infecção do trato respiratório inferior e sepse, principalmente os pacientes com história
    epidemiológica atípica. O teste é mais útil quando há preocupações relativas a patógenos resistentes a vários
    medicamentos. As amostras devem ser coletadas antes de iniciar o regime antimicrobiano empírico, se possível.
  • Teste rápido e PCR para Influenza
    Swabs nasofaríngeos podem ser coletados para descartar influenza e outras infecções respiratórias, de acordo com
    as orientações locais. É importante observar que podem ocorrer coinfecções, e um exame positivo para um
    patógeno não SARS-CoV-2 não descarta a COVID-19.
    Segundo a literatura científica atual, alguns padrões de exames laboratoriais têm cursado com pior evolução clínica,
    como linfopenia, elevação de transaminases, proteína C-reativa, ferritina, D-dímero > 1mcg/mL, elevação de
    troponina, CPK, alteração função renal, principalmente se redução progressiva de linfócitos e elevação progressiva
    de D-dímero

Edição 08. Jul/2020. Assessoria Médica – Lab Rede

Referências
1. IFCC information guide on COVID 19. Atualizado em 22/06/2020. Dísponível em https://www.ifcc.org/ifcc-news/2020-03-26-ifcc-information-guide-on-covid-19/
2. Doença do Coronavírus 2019 (Covid 19). BMJ Best Practice. Atualizado em 19/06/2020. Disponível em https://bestpractice.bmj.com/topics/ptbr/3000168/pdf/3000168/Doen%C3%A7a%20do%20coronav%C3%ADrus%202019%20%28COVID-19%29.pdf
3. Brasil. Ministério da Saúde. Diretrizes para diagnóstico e tratamento da Covid-19 versão 3. Disponível em https://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2020/April/18/DiretrizesCovid19.pdf
4. Dias V., Carneiro M., Vidal C., Corradi M., Brandão D., Cunha C., Chebabo A., et al. Orientações sobre Diagnóstico, Tratamento e Isolamento de Pacientes com COVID-19. J. Infect. Control,
2020 Abr-Jun;9(2):56-75 [ISSN 2316-5324]

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