Visão geral e diagnóstico laboratorial
Alergias alimentares são um problema sério e crescente de saúde pública que afeta crianças e adultos. Em todo o mundo, 520 milhões de pessoas podem sofrer de alergias alimentares. A maior parte delas tem uma sensibilidade que varia de um a três alimentos. No Brasil não há estatísticas oficiais, porém, a prevalência parece se assemelhar com a literatura internacional, que mostra cerca de 8% das crianças, com até dois anos de idade, e 2% dos adultos com algum tipo de alergia alimentar.
O que dificulta a identificação das alergias alimentares é o fato de elas frequentemente apresentam uma ampla variedade de sintomas que podem coincidir com reações alimentares não alérgicas. Os sintomas gastrointestinais (GI) desencadeados pela doença celíaca e por intolerâncias alimentares específicas, como intolerância à lactose ou síndrome do intestino irritável (SII), são frequentemente interpretados como alergias alimentares.
O diagnóstico, seguido de aconselhamento e orientação com base em resultados de testes, pode ajudar a reduzir a incidência de reações adversas e a exclusão desnecessária de alimentos que devem ser consumidos como parte de uma dieta normal e saudável.
A alergia alimentar é geralmente autodiagnosticada e autorrelatada, muito mais do que sua real prevalência, e, por isso, é importante observar atentamente o histórico de sintomas do paciente, em conjunto com a avaliação clínica e os testes diagnósticos, para confirmar ou descartar a presença de alergias alimentares.
Alergia alimentar é uma resposta anômala do sistema imunológico contra uma proteína de determinado
alimento. Existe uma predisposição genética para isso e nos últimos anos se reconhece a influência do meio ambiente neste processo – mudança de estilo de vida e alimentação são alguns dos fatores mais associados. Ao reconhecer a proteína como algo prejudicial, o sistema imunológico deflagra algumas
respostas que acabam por se manifestar em forma de sintomas desagradáveis e potencialmente graves.
Dentre os alimentos mais comumente alergênicos, destacam-se: leite, ovo, soja, trigo, amendoim, castanhas, peixes e frutos do mar. No entanto, vários outros alimentos vêm paulatinamente ocupando espaço na lista dos alérgenos, caso das sementes (destaque para o gergelim) e algumas frutas.
Diagnóstico
O diagnóstico da alergia alimentar começa com um exame físico, e de importância crucial, um histórico com foco em alergia alimentar. Os objetivos de um histórico do paciente também incluem a identificação dos tipos ou alimentos específicos que podem ser responsáveis pela alergia.
O padrão-ouro para o diagnóstico das alergias alimentares é o teste de provocação oral, duplo-cego e controlado por placebo. A limitação de sua aplicabilidade na prática clínica diária impõe a necessidade de estabelecer outros métodos diagnósticos que facilitem ao médico a decisão de submeter ou não o paciente ao teste.
A detecção de IgE específica tem sido considerada como indicativo da sensibilização ao alimento, na maioria das vezes, orientando o alimento a ser utilizado no teste de provocação duplo-cego placebo controlado.
Determinação de IgE Específica
Atualmente, o ImmunoCAP®, ainda conhecido como RAST® entre grande parte dos médicos prescritores, é reconhecido como referência na determinação de IgE específica, auxiliando no diagnóstico laboratorial de alergia. É um teste prático, rápido e seguro, executado a partir de uma amostra de sangue convencional.
Não há como interpretar a dosagem de IgE específica dissociada da anamnese e de outros exames complementares. A presença de IgE detectável não indica, necessariamente, doença alérgica, tampouco sua ausência a exclui. É sempre importante ressaltar que a detecção de IgE específica indica somente que existe sensibilização, isto é, a determinação de IgE específica não faz diagnóstico de doença alérgica, portanto, o resultado deve ser avaliado à luz da história, do exame do paciente, das características alergênicas do local, etc. Portanto, neste contexto, o papel do clínico é fundamental.
Determinação de Componentes de Alérgenos
O ImmunoCAP® tradicional avalia a reatividade contra extratos crus das fontes alergênicas, que contêm componentes alergênicos e não alergênicos. Entretanto, a gravidade da resposta alérgica pode variar conforme o componente molecular reconhecido pelo paciente. Os testes ImmunoCAP® moleculares determinam a reatividade IgE contra distintos componentes moleculares de uma mesma fonte alergênica.
Por conta disso, a investigação laboratorial das alergias evoluiu para a era molecular, na qual as fontes alergênicas que causam a condição alérgica, são fragmentadas em seus componentes e pesquisadas de maneira única. Os componentes alergênicos utilizados são purificados de maneira natural (n) ou produzidos de forma recombinante (r) e sua nomenclatura apresenta as três primeiras letras do gênero, a primeira letra da espécie e um número correspondente à ordem de identificação da substância (por exemplo: camarão, Penaeus aztecus, é Pen a 1; látex, Hevea brasiliensis, é Hev b 1 a 14).
Os componentes de alérgenos auxiliam os médicosa:
- Diferenciar entre sensibilização primária e sensibilização de reatividade cruzada;
- Melhorar a avaliação do risco de uma reação sistêmica em comparação com uma resposta mais leve ou localizada;
- Identificar alérgenos para uma imunoterapia bem-sucedida (IT).
Algorítmos – Componentes de alérgenos
Referências
- Pawankar R, Holgate ST, Canonica GW, et al. World Allergy Organization (WAO) White Book on Allergy. 2013.
- Kurowski K, Boxer RW. Food allergies: detection and management. Am Fam Physician. 2008
- Burks AW, Tang M, Sicherer S, et al. ICON: Food allergy. J Allergy Clin Immunol. 2012
- Manea I, Ailenei E, Deleanu D. Overview of food allergy diagnosis. Clujul Med. 2016
- Matricardi P.M. et al. EEACI Molecular Allergology User’s Guide. PAI 2016