A varíola do macaco é habitualmente encontrada na África Central e Ocidental. É uma
zoonose viral causada pelo vírus da varíola do macaco, do gênero Orthopoxvirus, que
inclui o vírus varíola (causador da varíola humana). Há duas cepas geneticamente
diferenciadas do vírus da varíola do macaco: a cepa da bacia do Congo (África Central) e
a cepa da África Ocidental. As infecções humanas com a cepa da África Ocidental
parecem causar uma doença menos grave em comparação com a cepa da bacia do
Congo.
Em 15 de maio de 2022 a Organização Mundial da Saúde (OMS) recebeu a notificação
de quatro casos confirmados de varíola do macaco no Reino Unido. Dois dias mais tarde, outros dois países notificaram casos: Portugal e Suécia. Todos os casos sem antecedentes de viagem a uma área endêmica e sem vínculo epidemiológico entre os casos nos diferentes países. Até 20 de maio de 2022, onze países reportaram casos: Austrália, Alemanha, Bélgica, Canadá, França, Estados Unidos, Espanha, Itália, Portugal, Suécia e Reino Unido. Na Região das Américas, foram notificados casos de varíola do macaco no Canadá e Estados Unidos da América. Os casos não têm antecedentes de viagem a uma área endêmica na África Ocidental ou África Central. A dispersão geográfica dos casos na Europa sugere que a transmissão pode estar em curso há algum tempo, e por isso não se descarta a ocorrência de casos adicionais em outros países.

TRANSMISSÃO

Em geral a varíola do macaco é transmitida principalmente por contato direto ou indireto com sangue, fluidos corporais, lesões de pele ou mucosas de animais infectados. A transmissão secundária ou de pessoa para pessoa pode ocorrer por contato próximo com secreções das vias respiratórias ou lesões cutâneas de uma pessoa infectada, ou com objetos recentemente contaminados com fluidos do paciente ou materiais da lesão. A transmissão ocorre principalmente por gotículas respiratórias.
A infecção também é transmitida por inoculação ou através da placenta (varíola do macaco congênita). Não há evidência de que o vírus da varíola do macaco seja transmitido por via sexual.
O período de incubação costuma ser de 6 a 16 dias, mas existe descrição de que pode variar de 5 a 21 dias. Os casos suspeitos deverão ser notificados imediatamente às respectivas autoridades de saúde pública, para que sejam implementadas as devidas ações. A vigilância entre os trabalhadores da saúde potencialmente expostos também é essencial.
Para facilitar as ações de vigilância, é proposta a seguinte definição de caso provisória para países não endêmicos:

Caso suspeito:

Pessoa de qualquer idade que se apresenta, em um país não endêmico de varíola do macaco, com um
exantema agudo inexplicável e que apresentou um ou mais dos seguintes sinais ou sintomas, depois de 15 de março de 2022: cefaleia, febre de início súbito (>38,5oC), mialgia, dor nas costas, astenia, linfadenopatia; para os quais as seguintes causas habituais de exantema agudo foram descartadas: varicela, herpes zoster, sarampo, Zika, dengue, Chikungunya, herpes simples, infecções bacterianas da pele, infecção gonocócica disseminada, sífilis primária ou secundária, cancroide, linfogranuloma
venéreo, granuloma inguinal, molusco contagioso, reação alérgica (por exemplo, às plantas); e qualquer outra causa comum localmente relevante de erupção vesicular ou papular.

Caso provável:

Pessoa que atende a definição de caso suspeito e um ou mais dos seguintes critérios:

• Tem um vínculo epidemiológico (exposição respiratória próxima desprotegida; contato físico direto, incluindo sexual; ou contato com materiais contaminados, como roupa ou roupa de cama) com um caso provável ou confirmado de varíola do macaco nos 21 dias anteriores ao início dos sintomas;
• Antecedente de viagem a um país endêmico de varíola do macaco nos 21 dias anteriores ao início dos sintomas.

Caso confirmado:

Pessoa que atende à definição de caso suspeito ou provável e tem confirmação laboratorial para o vírus da varíola do macaco mediante teste molecular (PCR em tempo real), ou outra, como sequenciamento. O sequenciamento genômico, se estiver disponível, é útil para determinar e confirmar a cepa do vírus da varíola do macaco envolvida.
Obs: As definições de caso estabelecidas em 20 de maio de 2022 podem ser atualizadas de acordo com a evolução do evento.

INVESTIGAÇÃO DO CASO

Durante os surtos de varíola do macaco em humanos, o contato próximo com pessoas infectadas é o fator de risco mais
importante para a infecção pelo vírus. Se houver suspeita, a investigação deve consistir em:
• Revisão do histórico clínico: evolução das lesões, possíveis fontes de infecção e a presença de uma doença similar na rede social do paciente e contatos;
• Exame clínico do paciente;
• Coleta e envio de amostra para exame laboratorial de varíola do macaco.
A investigação da exposição deve cobrir o período entre 5 e 21 dias antes do início dos sintomas. Qualquer paciente com suspeita de varíola do macaco deve ser isolado durante os períodos infecciosos supostos e conhecidos, ou seja, durante as fases prodrômica e exantemática da doença, respectivamente. A confirmação laboratorial dos casos suspeitos ou prováveis é importante, mas não deve retardar as ações de saúde pública.

IDENTIFICAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DOS CONTATOS

Identificação, educação sobre as medidas de controle, e acompanhamento de contatos são medidas fundamentais de saúde pública para controlar a propagação da varíola do macaco. Permite a interrupção da transmissão e pode evitar que pessoas com maior risco desenvolvam uma doença grave, ao identificar oportunamente sua exposição.
No atual contexto, logo que se identifica um caso suspeito, deve-se iniciar a identificação e o acompanhamento de contatos. Os contatos próximos do caso devem ser informados de sua condição de contato, dentro das 24 horas após a identificação.

DEFINIÇÃO DE CONTATO

O contato é uma pessoa que esteve exposta em diferentes contextos a um caso provável ou confirmado de varíola do macaco
no período infeccioso, compreendido entre o início de sintomas do caso até que tenham caído todas as crostas das lesões
cutâneas. Considera-se como exposição, as seguintes situações:
• Exposição respiratória desprotegida (particularmente relevante para os trabalhadores da saúde);
• Contato físico direto, incluído o contato sexual;
• Contato com materiais contaminados como roupa ou roupa de cama.

ACOMPANHAMENTO DE CONTATOS

Recomenda-se realizar acompanhamento do contato a cada 24 horas para detectar o surgimento de sinais e sintomas durante um período de 21 dias, contados a partir do último contato com um paciente no período infeccioso. Os contatos devem controlar sua temperatura duas vezes ao dia. Os contatos assintomáticos podem prosseguir com as atividades diárias de rotina, mas devem permanecer perto de casa enquanto durar a vigilância, e não devem doar sangue, células, tecidos, órgãos, leite materno ou sêmen enquanto estiverem sob monitoramento. No caso de ocorrerem contatos assintomáticos em crianças em idade pré-escolar, é recomendado evitar que vão a creches ou outros ambientes comunitários. Se o contato desenvolver erupção na pele, deve ser isolado e ser avaliado como caso suspeito, além de ser coletada uma amostra para análise laboratorial, para detectar varíola do macaco.

MANEJO CLÍNICO E CONTROLE DE INFECÇÕES

Clinicamente, a infecção pode ser dividida em dois períodos:
• O período de invasão (entre os dias 0 e 5), caracterizado por febre, cefaleia intensa, linfadenopatia, dor lombar, mialgias (dores musculares) e astenia intensa;
• O período de erupção cutânea (entre 1 e 3 dias depois do início da febre), quando surgem as diferentes fases do exantema, que em geral afeta primeiramente a face, e a seguir se espalha para o resto do corpo. As áreas mais afetadas são face (95% dos casos), regiões palmar e plantar (em 75% dos casos). A evolução do exantema de maculopapular (lesões de base plana) para vesicular (bolhas cheias de líquido), pustular e crostas subsequentes, ocorre em 10 dias. A eliminação completa das crostas pode demorar até três semanas. O número de lesões varia desde poucas a milhares, e afetam as mucosas oral (70% dos casos), genital (30%), conjuntiva palpebral (20%) e córnea. A taxa de letalidade teve grande variação nas diferentes epidemias, mas foi inferior a 10% nos eventos documentados.
Os trabalhadores da saúde que atendem casos suspeitos ou confirmados de varíola do macaco devem implementar precauções padrão, de contato e por gotículas. Isto inclui proteção para os olhos, máscara cirúrgica, avental e luvas descartáveis. Estas precauções são aplicáveis a todos os estabelecimentos de saúde, incluindo os serviços ambulatoriais e hospitalares. Durante a realização de procedimentos geradores de aerossóis, os profissionais de saúde devem utilizar máscaras N95 ou equivalentes.
As amostras retiradas de pessoas ou animais com suspeita de varíola do macaco devem ser manipuladas de maneira segura por pessoal capacitado que trabalhe em laboratórios devidamente equipados.

CONSIDERAÇÕES RELACIONADAS A TRATAMENTO E VACINAÇÃO

Não há tratamentos específicos contra a infecção pelo vírus da varíola do macaco. Os sintomas da varíola do macaco costumam ter resolução espontânea. É importante cuidar da erupção deixando que seque, ou cobrindo com um curativo úmido para proteger a área, se necessário. Deve-se evitar tocar qualquer lesão na boca ou nos olhos. Foi demonstrado que a vacinação contra a varíola ajuda a prevenir ou atenuar a doença pela varíola do macaco, com uma eficácia de 85%. As pessoas vacinadas contra a varíola humana no passado, demonstraram ter alguma proteção contra a varíola do macaco. Entretanto, deve-se levar em conta que a vacinação contra a varíola humana foi encerrada em 1980, depois que esta doença foi declarada erradicada. As vacinas contra a varíola humana já não estão disponíveis no mercado.
Existe uma vacina para a varíola do macaco (MVA-BN), também conhecida como Imvamune, Imvanex ou Jynneos, aprovada em 2019, que ainda não está amplamente disponível. A OMS está coordenando com o fabricante para melhorar o acesso à vacina. Uma vez que a infecção pela varíola do macaco é incomum, não se recomenda a vacinação universal.

Referência: Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde. Alerta Epidemiológico: Varíola do macaco em países não endêmicos. 20 de maio de 2022,
Washington, D.C.: OPAS/OMS; 2022. Disponível em https://www.paho.org/pt/documentos/alerta-epidemiologico-variola-do-macaco-em-paises-nao-endemicos-20-maio-2022

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